A busca da perfeição - Platão

Após Sócrates, a sequência é inevitável, Platão. Em verdade, não é simples separar as idéias dos dois, pois toda a obra deste se fundamenta, recorrentemente, nos ensinamentos e na vida daquele. Talvez, por isso, muitos estudiosos denominam alguns de seus pensamentos como “socrático-platônicos”. Platão, primeiro filósofo da antiguidade cujas obras, acredita-se, teriam chegado completas ao nosso tempo, nasceu em Atenas – Grécia, em 428 a.C., filho de aristocratas, cresceu no seio da nobreza grega e, desde cedo, demonstrou aptidão pela arte. Seu verdadeiro nome era Arístocles, mas recebeu o codinome Platão, em grego plátos (que significa amplitude, dimensão, largura) por conta de sua característica física. Quando tinha vinte anos de idade, conheceu Sócrates, este já com uns 60 anos, tornou-se seu discípulo e com ele conviveu e aprendeu por cerca de 8 anos, até sua acusação, julgamento, condenação e morte, fato que deixou Platão desiludido com o sistema democrático ateniense.

A partir daí, Platão partiu de Atenas, diz-se que ele viajou por 12 anos, tendo passado pelo Egito, Esparta, Itália e até Judéia, só voltando a sua terra natal quando já tinha 40 anos de idade e fundando, então, sua escola, denominada “Academia”, onde se ensinava Filosofia, Matemática, Geometria, História, Música, Astronomia etc. A metodologia de ensino adotada pela “Academia” de Platão era inovadora, pois propunha a dialética socrática como caminho para alcançar o saber, ou seja,mediante um processo endógeno, pela busca individual, através de constantes questionamentos, contrapondo-se, portanto, àquelas escolas que se dedicavam em apenas transmitir o conhecimento já produzido. Platão valorizava os métodos de debate e a conversação como formas de se alcançar o conhecimento e defendia que a educação deveria dedicar esforços para desenvolvimento moral, físico e intelectual dos alunos.

A obra desse grande filósofo abrange temas diversos, dentre os quais “o belo”, “a virtude”, “a piedade”, “a ciência”, “a alma”, “a política” etc. Contudo, a marca de sua filosofia é o que ficou conhecido como “Dualismo Platônico”, caracterizado, resumidamente, pela teoria da existência de duas realidades, a inteligível e a sensível. Essa teoria provavelmente formou-se das influência que Platão teve, a saber: (i) de um lado Sócrates e sua idéia de que os nossos conceitos são universais, necessários, imutáveis e eternos; (ii) do outro, Heráclito (filósofo pré-socrático) que afirmava que tudo no mundo é individual, contigente e transitório. Então, pensou Platão, deve existir, além do fenomenal, um outro mundo de realidades, objetivamente dotadas dos mesmos atributos dos conceitos subjetivos que as representam. A estas realidades denominou “Idéias”, as quais não são, pois, no sentido platônico, representações intelectuais, formas abstratas do pensamento, mas sim realidades objetivas, modelos perfeitos e eternos, das quais as coisas visíveis são cópias imperfeitas e fugazes. Assim a “idéia” de homem é o homem abstrato perfeito e universal de que os indivíduos humanos são imitações transitórias e defeituosas.

Platão tentou explicar sua teoria por meio de uma parábula que ficou conhecida como “Mito da Caverna” ou, ainda, “Alegoria da Caverna”: Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali. Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira. Os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade. Um dos prisioneiros decide abandonar essa condição e fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. Aos poucos vai se movendo e avança na direção do muro e o escala, com dificuldade enfrenta os obstáculos que encontra e sai da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza.


Nessa alegoria, Platão referia-se aos seus contemporâneos, com suas crenças e superstições. O filósofo era aquele capaz de fugir das amarras que prendem o homem comum às suas falsas crenças e, partindo na busca da verdade, consegue apreender um mundo mais amplo. Ao falar destas verdades para os homens afeitos às suas impressões, não seria compreendido, mas tomado por mentiroso, um corruptor da ordem vigente. O mito da caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância, isto é, a passagem gradativa do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na causalidade.

Platão morreu aos 80 anos e deixou uma extensa produção literária, a qual influencia diversas correntes de pensamento há séculos. Acredita-se que a importância de Platão, a criação da Academia e o trabalho da Igreja Católica e de alguns filósofos árabes foram fatores preponderantes para que sua obra chegasse completa a nossa época.

Fontes de apoio:
http://www.mundodosfilosofos.com.br/platao.htm
http://www.consciencia.org/platao.shtml
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mito_da_caverna
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Os pensamentos platônicos sempre foram temas de discussões filosóficas. A “Alegoria da caverna”, por exemplo, foi abordada, recentemente, pelos livros “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley (1932) e “A Caverna” de José Saramago, e pelos filmes Matrix (Irmãos Wachowski, 1999) e A Ilha de Michael Bay de 2005.


Será que a Igraja Católica baseou-se no Dualismo Platônico para desenvolver sua doutrina baseada em evidentes dualidades, tais como: o bem e o mal; o paraíso e o inferno; a fé e o pecado; a salvação e o purgatório?

E quanto às escolas atuais. Quantas utilizam a metodologia platônica, incentivando os alunos a buscarem e produzirem o conhecimento, ao invés de serem apenas consumidores do saber já produzido?

Boa reflexão.

Comentários

  1. Olá, Guilherme Azevedo:

    Os budistas afirmam que o "buda" é um ser perfeito e atemporal.

    Todavia, negam veementemente o mundo das formas e ideias perfeitas proposto por Platão...

    Pergunto-lhe porquê ... ???

    Amigavelmente - artur

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  2. Caro Artur, boa tarde. Não me atreveria a tentar responder seu questionamento pois não possuo o conhecimento necessário acerca da doutrina budista. Contudo, sugiro que dê uma lida no artigo que segue: https://barcodasideias.wordpress.com/2013/12/07/fedon-de-platao-e-budismo-a-libertacao-pelo-conhecimento/
    Ele não traz sua resposta, mas talvez possa lhe ajudar a encontrá-la.
    Um abraço.
    Guilherme

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